TESTAMENTO ESPIRITUAL DE MONSENHOR JUVENAL VAZ GUIMARÃES FILHO, PADRE DA DIOCESE DE SÃO JOÃO DEL-REI/ MG.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
“Agora, portanto, permanecem fé, esperança, caridade, essas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade” (1Cor 13,13)
A vida é sempre um mistério recolhido nas mãos do Altíssimo, só ele sabe quando deixaremos a transitoriedade do mundo para mergulharmos na vida eterna. Mas, tendo diante dos olhos mais a vida espiritual do que a do mundo, na presença de Deus, sob a proteção do Glorioso São José e da Imaculada Conceição, quero deixar a todos os Tijucanos e amigos algumas palavras e meus últimos e mais caros desejos de acordo com a fé que creio e professo. Por isso, surgem logo, no coração, as maravilhas da Quinta-feira Santa. Cristo, humildemente, lava os pés poeirentos de seus discípulos e institui a Sagrada Eucaristia e o Sacerdócio ministerial, porque Ele quer continuar presente entre nós e ser o nosso alimento espiritual, nesta longa e árdua caminhada.
Nasci, vivi e morro na fé Católica Apostólica Romana. Nasci no dia 1º de maio de 1932, Domingo, às 18h no Bairro do Tijuco em São João del-Rei. Filho legítimo de Juvenal Vaz Guimarães e Carmelita Alves Guimarães. Agradeço aos meus pais que me confirmaram na fé que professo. Fui Batizado em 1932, realizada a Primeira Comunhão em 1939, em 1945 ingressei no Seminário menor Arquidiocesano São José em Mariana, em 1952 ingressei no Seminário Maior Arquidiocesano São José em Mariana, em 1956 recebi o Subdiaconato e em 1957 fui ordenado Diácono. No dia 1º de dezembro de 1957, na vetusta Sé Catedral de Mariana, fui ordenado sacerdote. Louvo a Deus pela família católica em que nasci e pela Mãe Igreja que me acolheu como seu filho. Creio e professo todas a verdades contidas no Credo e na Doutrina da Santa Mãe Igreja.
Primeiramente, consciente de meus dons e limites, envolvido de caridade, suplico muito humildemente àqueles que eu por ventura tenha ofendido, sido impaciente ou escandalizado de qualquer modo, queiram perdoar-me em consideração à Caridade infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo e unir suas orações às minhas para obter de Deus que ele se digne esquecer os pecados de minha vida passada e receber minha alma em sua misericórdia infinita.
Meu coração se volta agradecido, num primeiro instante, à Arquidiocese de Mariana que me acolheu e me concedeu a maior alegria de minha vida, o Ministério Presbiteral. Num segundo instante, à Diocese de São João del-Rei, por quem nutro muito respeito e agradecimento. No espírito de caridade, sempre busquei ser obediente a todos os Bispos Diocesanos, pois aos que são inferiores cabe encarar nos superiores a pessoa de Jesus Cristo, a eles obedeçam de coração e de espírito, renunciando sempre, se for necessário, à própria vontade e ao próprio critério. Para com os irmãos presbíteros sempre busquei crescer na fraternidade presbiteral, movido pelo vínculo do amor. Sou agradecido pela vida de tantos irmãos padres que conheci e convivi, aos quais eu pude ajudar e ser ajudado na caminhada presbiteral. Reconhecendo que sem caridade nada tem sentido e preocupado com o futuro das vocações, deixo um patrimônio cuja a finalidade será para a formação dos padres de nossa Diocese. Que este gesto não seja interpretado simplesmente como um ato patrimonial, mas que sirva para despertar em todos os irmãos padres o compromisso de unidos pela caridade ajudar a formação de novos presbíteros para a nossa Diocese. O padre é o outro Cristo presente entre nós – “alter Christus”, Ele é o depositário e o distribuidor de toda a riqueza espiritual, conquistado por Cristo, no Calvário. Ele estabelece a união da criatura humana ao criador. Quanto mais intensa a união maior será a santificação. O padre é o plenipotenciário de Deus aqui na terra, para consagrar, perdoar e santificar. Ele age na pessoa de Cristo – “in persona Christi”. Ele consagra na missa e diz: “Isto é o meu corpo”. “Este é o cálice do meu sangue”. No confessionário diz: “Eu te perdoo os teus pecados”. É Cristo quem perdoa. São mistérios de fé. O padre é um ser humano fragilizado sim, mas enriquecido por Deus, com poderes sobrenaturais, a quem o próprio Deus obedece. A Cristo Sumo e Eterno Sacerdócio, Toda honra e toda glória pelos séculos sem fim.
Como Padre tijucano falo ao coração dos tijucanos e, desejo mais uma vez, gravar, em seus corações os misteriosos ensinamentos do Cristo Mestre: Caridade. Eu vos peço com toda a afeição de minha alma e por toda afeição que tendes por mim, que procedais sempre de tal modo que a santa caridade se mantenha sempre entre vós. Amai-vos uns aos outros como Jesus Cristo vos amou. Que não haja entre vós senão um mesmo coração e um mesmo espírito. Sejam solidários uns aos outros, sem orgulho e nem discriminação. Excluir o indesejável e quem lhe causou o mal é rejeitar o Cristo. A fraternidade e a união dos primeiros cristão encantavam os pagãos que exclamavam: “Vede como eles se amam”. O desejo do meu coração é que todos que conhecerem a querida e amada Paróquia de São José do Tijuco possam dizer sempre: “Vede como eles se amam”. Por isso, mais uma vez repito aquelas palavras de nosso amado Salvador: “Amai-vos uns aos outros”. Continuem sendo um povo fiel a Deus, que cresce diariamente sobre a sobra do Glorioso São José, nosso pai e protetor. Continuem firmes na Eucaristia, na oração e na caridade que vos une todos juntos como membros do mesmo corpo. Agradeço a todos os paroquianos que junto ao pároco, sempre se dedicaram ao crescimento espiritual e patrimonial da Paróquia, tendo diante dos olhos sempre a pessoa de Jesus Cristo, tudo para a maior honra e glória Dele. Que jamais falte santos sacerdotes à nossa Paróquia de São José Operário, pois se faltar o padre, não haverá a Eucaristia nem o alimento que nos fortalece para as lutas da vida, os sacrários emudecerão fechados, nossas almas ficarão asfixiadas por falta do oxigênio da vida espiritual. Por outro lado, que os paroquianos sempre ame o seu pároco, o veja com as lentes da fé. Ele merece nossas orações, respeito, amor e carinho. Ele deixou tudo por amor de nós tijucanos. Amados tijucanos, recorro as palavras de São Paulo para deixar mais um ensinamento: “Vigiai, permanecei firmes na fé, sede corajosos, sede fortes! Fazei tudo na caridade” (1Cor 16,13-14). Sendo assim, inspirado pelas luzes do Espírito Santo e numa ânsia ardente de que a Caridade seja a pupila das preocupações da Paróquia de São José Operário, deixo à mesma, um patrimônio, sob a responsabilidade do Pároco e que deverá ser para o serviço da caridade paroquial, para o bem dos pobres, dos necessitados no campo espiritual e material. E assim, possa todos os paroquianos sempre se dedicarem através da oração e da ação pelo amor aos irmãos e irmãs.
Chegada a hora de minha partida deste mundo para a eternidade, possa alcançar aquilo que sempre rezei com fé a São José: “Amparai a cada um de nós com vosso constante patrocínio, a fim de que, a vosso exemplo e sustentados com vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, piedosamente morrer, e alcançar no Céu a eterna bem-aventurança”. Que minhas exéquias sejam realizadas de acordo com a Liturgia da Igreja Católica e as orientações vigentes. Se o Bispo Diocesano permitir, desejo ser sepultado na Matriz de São José Operário – Tijuco. E que sejam celebradas Missas em sufrágio de minha alma. Vivo e morro na certeza do que Jesus disse: “Eu sou a Ressurreição e a vida, quem crê em mim, mesmo que morra viverá. E quem vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26).
Como é consolador, no momento de se apresentar diante de Deus, lembrar-se de que sempre vivi sob a proteção de São José e por ele sempre fui amparado no ministério presbiteral. Deixo-vos todos, confiados a proteção de São José, esperando que nos possamos reunir todos juntos na vida eterna.
“In te, Domine, speravi: non confundar in aeternum” Em ti, Senhor, esperei: jamais serei confundido.
Mons Juvenal Vaz Guimarães Filho
São João del-Rei, 08 de setembro de 2021.
Festa da Natividade de Maria
Ano Santo de São José.